CAIRO - Três países árabes proibiram a exibição do filme de Hollywood "Noé" devido a questões religiosas, mesmo antes da estreia mundial, e vários outras nações devem fazer o mesmo, afirmou à Reuters neste sábado um representante da Paramount Pictures.
O Islã não simpatiza com a representação de pessoas sagradas na arte, e retratos do profeta Maomé na imprensa da Europa e da América do Norte causaram violentos protestos em países islâmicos nos últimos dez anos, alimentando as tensões culturais com o Ocidente.
"Censores do Catar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos oficialmente confirmaram nesta semana que o filme não será exibido nesses países", afirmou um representante da Paramount Pictures, que fez a produção ao custo de 125 milhões de dólares e contratou os atores vencedores do Oscar Russell Crowe e Anthony Hopkins.
"A explicação oficial que eles deram ao confirmar o veto é que 'o filme contradiz os ensinamentos do Islã'", afirmou o representante, acrescentando que o estúdio espera proibições similares no Egito, na Jordânia e no Kuwait. A estreia nos EUA está marcada para 28 de março.
Noé, que no livro bíblico de Gênesis constrói uma arca que salvou a sua família e muitos casais de animais do grande dilúvio, é reverenciado pelo judaísmo, cristianismo e islamismo.
Um capítulo inteiro do Corão é dedicado a ele. A universidade Al-Azhar, maior autoridade do islã sunita e centro do ensinamento do islamismo por mais de um milênio, emitiu na quinta-feira uma fatwa, ou uma determinação religiosa, contra o filme.
"A Al-Azhar renova sua objeção a qualquer ato que retrate os mensageiros e profetas de Deus e os colegas do Profeta (Maomé). Que a paz esteja com ele", anunciou a universidade em comunicado.
Eles "provocam sentimentos nos crentes, são proibidos no Islã e uma clara violação da lei islâmica", acrescentou a fatwa.
O filme de 2004 "A Paixão de Cristo", estrelado por Mel Gibson e que retratou a crucificação de Jesus, foi muito assistido no mundo árabe, apesar de muitas objeções por parte dos clérigos muçulmanos.
Em 2012, a minissérie árabe "Omar", que retratava a vida do governante muçulmano e companheiro de Maomé no século 7, também superou as objeções dos clérigos e foi exibida em uma emissora de televisão via satélite.
PROTESTOS
A publicação de caricaturas do profeta Maomé em um jornal dinamarquês, em 2006, causou grandes protestos no Oriente Médio, África e Ásia, nos quais morreram pelo menos 50 pessoas.
Em 2012, um vídeo amador produzido na Califórnia e publicado no Youtube, zombando de Maomé, foi o motivo de protestos em toda a região e pode ter contribuído para um ataque militante na Líbia, que matou o embaixador norte-americano no país e outros três cidadãos dos EUA.
"Noé", que no trailer mostra Crowe empunhando seu machado e gêiseres feitos no computador inundando um exército de pecadores que queriam entrar em sua arca, também causou polêmica nos EUA.
Jerry A. Johnson, presidente da entidade conservadora Emissoras Religiosas Nacionais (NRB), afirmou no mês passado que gostaria de "assegurar que todos que vejam esse filme impactante saibam que é uma interpretação imaginária das Escrituras, não literal".
A Paramount respondeu concordando em emitir uma retratação. "Embora a licença artística tenha sido utilizada, acreditamos que o filme é verdadeiro em sua essência, valores e integridade de uma história que é uma pedra angular da fé de milhões de pessoas em todo o mundo", disse o estúdio no comunicado.
(Reuters)
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