Num pequeno edifício branco que noutros tempos albergou uma empresa de redes camaroeiras, a congregação da Igreja Baptista dos Pescadores reúne- -se para mais um serviço dominical. O pregador preside à cerimónia de um púlpito concebido para se parecer com a roda de leme de um navio. A igreja fica junto ao rio Bon Secour, também usado para baptismos no Alabama, Estados Unidos.
Depois do cântico de abertura, "Ring the Bells of Heaven", e do anúncio de que um casal de noivos já tem a lista de casamento nos armazéns Walmart, o padre lê em voz alta um texto do governador Bob Riley, que declara a jornada uma "dia de oração" - um dia de súplicas para enfrentar a temível ameaça à vida fora das portas brancas da igreja.
Pessoas de Alabama, por favor orai pelos vossos pares e cidadãos dos outros Estados afectados por esta calamidade, por todos aqueles que estão a dar resposta ao problema, diz o documento. E rezai para que se encontre depressa a solução para pôr cobro ao derrame de petróleo. Por outras palavras, meu Deus, obrigado pelas Tuas bênçãos e orientações. E mais uma coisa, meu Deus: ajuda-nos.
As palavras do governador pairam por alguns momentos no ar agitado pela ventoinha. O pastor Shawn Major pede aos homens presentes para se aproximarem, a fim de "pedirem a Deus algo especial".
Duas dúzias de homens, muitos deles em camisas de manga curta de cores estivais, ajoelham-se e permanecem de cabeça baixa e olhos fechados, enquanto na mesma rua, 800 metros abaixo, outros homens - e mulheres - recebem formação sobre uma forma de esperança mais secular, a colocação de diques flutuantes.
A barreira entre Igreja e Estado desmoronou-se domingo, quando líderes eleitos dos cinco Estados do golfo do México declararam um dia de oração. Embora as jornadas de oração não sejam uma raridade por aqui - há alguns anos Riley decretou um dia para rezar por chuva a fim de atenuar uma seca -, estas proclamações transmitem a ideia de que, após tanto tempo, a salvação do derrame quase requer intervenção divina.
Oração coordenada Nos dois meses depois da explosão mortal da Deepwater Horizon, que a 20 de Abril passado originou um derrame incessante de petróleo no golfo, destruindo o ecossistema e abalando a economia, os esforços dos mortais para deter o fluxo não surtiram efeito. Esta semana, a maré negra tornou-se a maior de sempre no golfo do México e está prestes a transformar-se na mais grave da história. Robôs, bolas de golfe e até uma sólida cúpula: vistas em retrospectiva, todas as medidas para reparar o mal parecem insignificantes. Por isso se experimenta um método diferente: oração coordenada.
No Texas, o governador Rick Perry incitou os texanos a pedir a Deus "a sua misericordiosa intervenção e solução para estes tempos de crise." No Mississípi, o governador Haley Barbour declarou que a oração "é uma oportunidade para reflectir e procurar orientação, força, conforto e inspiração de Deus Todo-Poderoso." No Louisiana, o governador proferiu a expressão "visto que" uma dúzia de vezes - bem como o nome da ave local, o pelicano-castanho - mas não mencionou Deus directamente. Na Flórida, o governador Jeff Kottkamp pediu aos cidadãos que rezassem para que Deus "guiasse e orientasse os líderes civis e lhes desse sabedoria e soluções inspiradas divinamente".
A sugestão do governo para pedir ajuda a Deus - um poder superior a qualquer autoridade eleita - foi ouvida em igrejas e edifícios públicos de Pensacola, Flórida, a Galveston, Texas, bem como aqui, em Bon Secour, onde o irmão Harry reza de cabeça baixa.
O pastor dos pescadores A Igreja Baptista dos Pescadores está presente nesta povoação, cujo nome significa porto seguro, desde 1989. No relvado da frente vê-se uma âncora. As paredes estão decoradas com pinturas de cenas náuticas. As caixas de esmolas são um farol em miniatura e uma arca de tesouro. A doca, no outro lado da rua, é usada para baptismos e pesca.
Tudo isto é reflexo do pastor e fundador da igreja, Wayne Mund, que cresceu aqui. O seu pai, avô e bisavô foram pescadores, tal como ele foi até aos 21 anos, quando deixou as redes e seguiu a escola da Bíblia.
Mund, 66 anos, alto, magro e orgulhoso por ser um baptista bíblico, trabalha arduamente para integrar na sua missão o seu passado de homem do mar. Vê a Bíblia, desde o Génesis ao Livro do Apocalipse, como um livro náutico e o mar como uma atracção fascinante. Termina a conversa alertando que quem não sobe a bordo do barco da salvação de Deus se "irá afogar num mar de pecado e aflição."
Agora a aflição petrolífera no mar está a afectar a sua pequena igreja, a sua comunidade. Há cada vez menos envelopes na arca do tesouro e no farol ao fundo da sala, pois parte dos 200 membros da sua congregação já não pode pagar a dízima. Há menos gente a assistir à missa pois os pescadores, que normalmente descansam ao domingo, estão a trabalhar para a BP, colaborando na limpeza da substância pegajosa que é arrastada para as margens do golfo e para a baía Mobile.
"O mar, o mar, o mar", diz Mund. "Tem a ver com o mar."
Mund tinha planos para estar fora da cidade no domingo, pelo que destacou o seu colega Major para rezar a missa das 10h30. Major, 46 anos, é entroncado e mais sorridente durante a evangelização do que o seu chefe.
Tem-lhe sido difícil compreender o derrame que afecta o rio e o mundo. E espera que as consequências humanas não sejam sentidas por mais de um ano.
Major passou o sábado com 70 homens e mulheres, tentando aprender a colocar os diques flutuantes. Mas hoje reza com outros 70 homens e mulheres, sentados em nove bancos de madeira; todos dizem ámen quando profere: "Continuamos a ser uma nação cristã". Anuem quando diz que todos sabiam quem iria "acabar por deter" o derrame.
Um missionário prestes a partir para o Brasil espera para fazer uma apresentação multimédia. Antes disso, no entanto, estes homens ajoelhados, guiados pelo irmão Harry - Harry Mund, um parente do pastor - têm de concluir a oração.
Por favor, meu Deus, ajuda-nos com este terrível derrame de petróleo, diz ele. Em nome de Cristo. Ámen.
Os homens levantam-se e voltam aos seus lugares, alguns deles limpando a umidade salgada dos olhos.Fonte: ionline
Depois do cântico de abertura, "Ring the Bells of Heaven", e do anúncio de que um casal de noivos já tem a lista de casamento nos armazéns Walmart, o padre lê em voz alta um texto do governador Bob Riley, que declara a jornada uma "dia de oração" - um dia de súplicas para enfrentar a temível ameaça à vida fora das portas brancas da igreja.
Pessoas de Alabama, por favor orai pelos vossos pares e cidadãos dos outros Estados afectados por esta calamidade, por todos aqueles que estão a dar resposta ao problema, diz o documento. E rezai para que se encontre depressa a solução para pôr cobro ao derrame de petróleo. Por outras palavras, meu Deus, obrigado pelas Tuas bênçãos e orientações. E mais uma coisa, meu Deus: ajuda-nos.
As palavras do governador pairam por alguns momentos no ar agitado pela ventoinha. O pastor Shawn Major pede aos homens presentes para se aproximarem, a fim de "pedirem a Deus algo especial".
Duas dúzias de homens, muitos deles em camisas de manga curta de cores estivais, ajoelham-se e permanecem de cabeça baixa e olhos fechados, enquanto na mesma rua, 800 metros abaixo, outros homens - e mulheres - recebem formação sobre uma forma de esperança mais secular, a colocação de diques flutuantes.
A barreira entre Igreja e Estado desmoronou-se domingo, quando líderes eleitos dos cinco Estados do golfo do México declararam um dia de oração. Embora as jornadas de oração não sejam uma raridade por aqui - há alguns anos Riley decretou um dia para rezar por chuva a fim de atenuar uma seca -, estas proclamações transmitem a ideia de que, após tanto tempo, a salvação do derrame quase requer intervenção divina.
Oração coordenada Nos dois meses depois da explosão mortal da Deepwater Horizon, que a 20 de Abril passado originou um derrame incessante de petróleo no golfo, destruindo o ecossistema e abalando a economia, os esforços dos mortais para deter o fluxo não surtiram efeito. Esta semana, a maré negra tornou-se a maior de sempre no golfo do México e está prestes a transformar-se na mais grave da história. Robôs, bolas de golfe e até uma sólida cúpula: vistas em retrospectiva, todas as medidas para reparar o mal parecem insignificantes. Por isso se experimenta um método diferente: oração coordenada.
No Texas, o governador Rick Perry incitou os texanos a pedir a Deus "a sua misericordiosa intervenção e solução para estes tempos de crise." No Mississípi, o governador Haley Barbour declarou que a oração "é uma oportunidade para reflectir e procurar orientação, força, conforto e inspiração de Deus Todo-Poderoso." No Louisiana, o governador proferiu a expressão "visto que" uma dúzia de vezes - bem como o nome da ave local, o pelicano-castanho - mas não mencionou Deus directamente. Na Flórida, o governador Jeff Kottkamp pediu aos cidadãos que rezassem para que Deus "guiasse e orientasse os líderes civis e lhes desse sabedoria e soluções inspiradas divinamente".
A sugestão do governo para pedir ajuda a Deus - um poder superior a qualquer autoridade eleita - foi ouvida em igrejas e edifícios públicos de Pensacola, Flórida, a Galveston, Texas, bem como aqui, em Bon Secour, onde o irmão Harry reza de cabeça baixa.
O pastor dos pescadores A Igreja Baptista dos Pescadores está presente nesta povoação, cujo nome significa porto seguro, desde 1989. No relvado da frente vê-se uma âncora. As paredes estão decoradas com pinturas de cenas náuticas. As caixas de esmolas são um farol em miniatura e uma arca de tesouro. A doca, no outro lado da rua, é usada para baptismos e pesca.
Tudo isto é reflexo do pastor e fundador da igreja, Wayne Mund, que cresceu aqui. O seu pai, avô e bisavô foram pescadores, tal como ele foi até aos 21 anos, quando deixou as redes e seguiu a escola da Bíblia.
Mund, 66 anos, alto, magro e orgulhoso por ser um baptista bíblico, trabalha arduamente para integrar na sua missão o seu passado de homem do mar. Vê a Bíblia, desde o Génesis ao Livro do Apocalipse, como um livro náutico e o mar como uma atracção fascinante. Termina a conversa alertando que quem não sobe a bordo do barco da salvação de Deus se "irá afogar num mar de pecado e aflição."
Agora a aflição petrolífera no mar está a afectar a sua pequena igreja, a sua comunidade. Há cada vez menos envelopes na arca do tesouro e no farol ao fundo da sala, pois parte dos 200 membros da sua congregação já não pode pagar a dízima. Há menos gente a assistir à missa pois os pescadores, que normalmente descansam ao domingo, estão a trabalhar para a BP, colaborando na limpeza da substância pegajosa que é arrastada para as margens do golfo e para a baía Mobile.
"O mar, o mar, o mar", diz Mund. "Tem a ver com o mar."
Mund tinha planos para estar fora da cidade no domingo, pelo que destacou o seu colega Major para rezar a missa das 10h30. Major, 46 anos, é entroncado e mais sorridente durante a evangelização do que o seu chefe.
Tem-lhe sido difícil compreender o derrame que afecta o rio e o mundo. E espera que as consequências humanas não sejam sentidas por mais de um ano.
Major passou o sábado com 70 homens e mulheres, tentando aprender a colocar os diques flutuantes. Mas hoje reza com outros 70 homens e mulheres, sentados em nove bancos de madeira; todos dizem ámen quando profere: "Continuamos a ser uma nação cristã". Anuem quando diz que todos sabiam quem iria "acabar por deter" o derrame.
Um missionário prestes a partir para o Brasil espera para fazer uma apresentação multimédia. Antes disso, no entanto, estes homens ajoelhados, guiados pelo irmão Harry - Harry Mund, um parente do pastor - têm de concluir a oração.
Por favor, meu Deus, ajuda-nos com este terrível derrame de petróleo, diz ele. Em nome de Cristo. Ámen.
Os homens levantam-se e voltam aos seus lugares, alguns deles limpando a umidade salgada dos olhos.Fonte: ionline
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