O mais famoso convertido ao cristianismo do Egito é prisioneiro em sua própria casa, escondendo-se para salvar a vida.
O egípcio Mohammed Ahmed Hegazy se tornou o primeiro muçulmano de nascimento a mover uma ação judicial, iniciada há um ano, para que seu documento de identidade indicasse sua nova fé.
Desde então, seu rosto tem sido mostrado em canais de televisão e jornais. A qualquer lugar que for, ele pode ser reconhecido por fanáticos decididos a matá-lo – além dos membros de sua própria família, que também querem vê-lo morto.
Nos últimos oito meses, desde que um tribunal egípcio encerrou o caso dele numa decisão suprema de 29 de janeiro que declarou ser contra a lei islâmica o ato de um mulçumano abandonar o islã, Hegazy teve de se mudar cinco vezes com sua mulher e sua filhinha.
“O veredicto do meu caso foi discriminatório da parte do juiz”, contou Hegazy ao Compass durante uma entrevista no mês passado. O juiz baseou sua decisão na lei islâmica, a qual diz que uma pessoa pode se converter no “sentido crescente” da hierarquia mulçumana das religiões – do judaísmo e do cristianismo para o islamismo –, mas nunca o inverso.
Porém, meses após a decisão final do tribunal, Hegazy disse que sua vida continua em perigo, assim como a de todo convertido no Egito.
Vivendo em fuga
“O mais difícil para mim é saber que a vida de minha mulher e de minha filha está em perigo o tempo todo”, disse Hegazy.
Numa das situações vividas um ano atrás, ele e a família por pouco não escaparam com vida. Em outubro passado, ele recebeu um telefonema de um amigo contando que um de seus próprios advogados havia dado seu endereço às autoridades. Seu amigo disse que ele deveria se mudar em poucos dias e tomar cuidado.
“Eu senti que devíamos nos mudar”, disse Hegazy, explicando que ele escuta a voz de Deus para decisões como essas. “Então nos mudamos imediatamente e, na noite seguinte, os fundamentalistas vieram nos atacar”.
Um grupo de islâmicos acampou-se ao redor da antiga casa dele por dias. Eles também tocaram fogo no apartamento da vizinha do lado de Hegazy, matando-a. Ele disse que essa vizinha, cujo nome foi mantido em sigilo para segurança de seus familiares, era a melhor amiga de sua esposa e os tinha ajudado em suas provações.
“A Igreja nega que ela tenha sido morta, e nunca comunicou o caso publicamente”, disse ele.
A esperança do convertido é poder sair do país com sua família um dia, mas sem passaportes, essa é uma possibilidade remota.
O pai de Hegazy entrou com um pedido de custódia de sua neta para que ela seja criada como mulçumana. Ele também deu informações falsas às autoridades, ao afirmar que Hegazy não tinha se alistado no serviço militar. Além disso, falou publicamente que se seu filho não renegar sua fé, ele o matará.
“Muitos advogados se apresentaram voluntariamente para abrir um processo contra mim”, disse Hegazy.
À espera
Hegazy e seu advogado ainda estão esperando por uma data do tribunal para fazer seu apelo. Eles entraram com um pedido em fevereiro.
“Toda semana nós vamos ao tribunal com a finalidade de descobrir para quando o apelo está agendado”, disse o advogado de Hegazy, Gamal Eid, da Rede Árabe para a Informação dos Direitos Humanos.
Numa recente visita ao tribunal, disseram para eles que voltassem em outubro, levando-os a acreditar que, talvez, eles conseguirão uma data do tribunal naquele mês.
Hegazy disse que está pronto para lutar pelo seu caso até o fim. Ele afirmou também que seu caso já tem trazido um ganho para os convertidos do Egito: o reconhecimento de que existem essas pessoas chamadas de “convertidos”, e eles estão em debate público.
“Atualmente, a palavra ‘convertido’ é usada pela mídia aqui – nunca havia sido usada antes!”, disse Hegazy. “Isso é um progresso”.
Fonte: Compass Direct
Via: Missão Portas Abertas
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