O Ministério da Educação tomou posição no debate relativo ao ensino do criacionismo nas escolas do país. Para o MEC, o modelo não deve ser apresentado em aulas de ciências, como fazem alguns colégios privados, em geral confessionais (ligados a uma crença religiosa).
“A nossa posição é objetiva: criacionismo pode e deve ser discutido nas aulas de religião, como visão teológica, nunca nas aulas de ciências”, afirmou à Folha a secretária da Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.
Apesar do posicionamento, o MEC diz não poder interferir no conteúdo ensinado pelas escolas, pois elas têm autonomia.
Conforme informou o colunista da Folha Marcelo Leite no último dia 30, o colégio Mackenzie (presbiteriano) adotou neste ano apostilas que apresentam o criacionismo nas aulas de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental.
Outras escolas, como as adventistas, por exemplo, praticam opção semelhante.
Teorias
Os criacionistas dizem que o Universo foi criado por um ser superior, assim como os seres vivos. Para eles, a vida é muito complexa para ter surgido sem intervenção sobrenatural.
Essa crença se opõe à teoria da evolução desenvolvida por Charles Darwin, presente nas diretrizes curriculares nacionais, segundo a qual todas as espécies provêm de um ancestral único –e, a partir dele, se diferenciaram, chegando à diversidade atual de seres vivos.
O entendimento do MEC é semelhante ao dos pesquisadores contrários ao criacionismo: o modelo não pode ser considerado teoria científica por não estar baseado em evidências (preceito tido como básico para se definir o que é ciência).
“[O ensino do criacionismo como ciência] é uma posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa”, afirmou Pilar.
O presidente da Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, Christiano da Silva Neto, tem entendimento diferente.
Para ele, como não há consenso sobre qual teoria está correta, “a maneira mais justa e honesta de lidar com a questão é apresentar ambos os modelos nas aulas de ciências, dando-se destaque aos pontos fortes e fracos de cada um”.
Escolas
O criacionismo é ensinado no Colégio Presbiteriano Mackenzie desde 1870, quando a instituição foi fundada.
O conteúdo é abordado no sexto ano do fundamental –para crianças com idade por volta dos 11 anos–, assim como a teoria evolucionista.
Neste ano, no entanto, o colégio passou a adotar um novo material nos três primeiros anos do ensino fundamental. São apostilas com conteúdos didáticos convencionais, onde há a explicação criacionista, mas sem a teoria evolucionista.
Segundo o colégio, nessa idade (por volta dos oito anos) os alunos não estão preparados para aprender o darwinismo. O colégio anunciou que alterará o conteúdo das apostilas, abrandando o caráter religioso, mas manterá o criacionismo.
O Pueri Domus Escolas Associadas, uma rede laica que reúne 160 escolas no Brasil inteiro, algumas com orientação católica ou protestante, também apresenta o criacionismo nas aulas de ciências.
O conteúdo é exposto com o evolucionismo no oitavo ano do ensino fundamental das escolas. Para Lilio Alonso Paoliel-lo Júnior, diretor de conteúdo da rede associada, o objetivo é promover o debate.
“Negativo seria não deixar que a discussão acontecesse. É uma questão de posição pedagógica. O conteúdo é aceito por pais das escolas laicas e das religiosas”, diz o diretor.
A visão também é defendida por Maria Lúcia Callegari, orientadora do colégio Santa Maria (zona sul de SP). “Quando falamos sobre o surgimento da vida, abordamos o criacionismo e o evolucionismo. Trabalhamos com pluralidade na ciência, para romper a idéia de uma verdade absoluta.”
Na escola, o conteúdo é ensinado para os alunos do quinto ano do ensino fundamental e, segundo ela, não há reclamação de pais por causa do conteúdo.
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